segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crianças soldado

Era uma vez um menino de três anos que vivia em Portugal. No Natal, recebeu a sua primeira bola de futebol. Chamava-se João e tornou-se futebolista.
Era uma vez um menino de três anos que vivia no Afeganistão. No Natal, recebeu a sua primeira arma de fogo. Chamava-se Joseph e tornou-se criança-soldado.
Os papéis poderiam ter sido invertidos. Joseph em Portugal e João no Afeganistão. O ideal até seria não haver o papel de Joseph. Mas isto não é uma história, é a realidade. E tal como Joseph, tantos milhares de outros meninos foram arrancados da sua vida familiar para serem confrontados com a dura realidade que existe para lá do reino dos sonhos.
Meninos que são pequenos adultos. Meninos que não sabem o que é brincar. Meninos que sofrem mais num dia do que qualquer outra pessoa devia sofrer na vida toda. E porquê?
Existem escritos e aprovados os direitos da criança. No entanto, só são aplicados a algumas crianças. O que é que o João de Portugal tem a mais do que o Joseph do Afeganistão? Tem mais sorte. Teve sorte na cegonha que lhe calhou. Teve a oportunidade de crescer e ser feliz.
Quem nos diz que Joseph não poderia ter sido um médico brilhante, salvando milhões de vidas? Assim, no país em que nasceu, não salvou ninguém. Matou.
No entanto, ninguém quer encarar a realidade. Quem tem o poder para mudar, prefere fechar os olhos face a esta brutalidade. Opta por viver no mundo do faz-de-conta.
As crianças-soldado não têm a oportunidade de fazer-de-conta. Às suas mãos, morrem pessoas. Aldeias são destruídas, famílias são divididas, seres humanos são mutilados. E porquê? Porque não receberam o presente certo naquele Natal. Porque os pais, quando compraram aquela arma, não repararam que na caixa dizia: "Brinquedo não indicado para crianças"

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